Olá queridos homo sapiens, como vocês estão? Este capítulo será a nossa despedida.
Mas espere, ainda não acabou. Não acredito que todas as emoções que expressam o entretenimento sejam apenas uma compilação de cinco delas (além da conhecida diversão).
Muitas outras emoções tanto individuais quanto coletivas podem representar o que você sente em um jogo. A regra é que não há regras e o limite é uma linha a ser cruzada. Inclusive que o brasileiro já passou há muito tempo hahaha.
Essa classificação é um guia de uma nova perspectiva que podemos aderir aos games da relevância cultural. Sem infantilização, nem esvaziar discurso.
Tudo tem uma ação e reação, consequências, aprendizados e construções. Simultaneamente social e individual. Todo jogo, do mais besta ao mais complexo é uma informação nova consumida transformada em memória, e junto com mil fatos nos moldam…
MOLDAM OS NERDS
Acredito que existe uma dissintonia criada pela classificação mecânica que desvaloriza e infantiliza os games, os afastando da cultura, arte, sociedade e do debate. Criando assim uma alienação e apatia generalizada na comunidade, nos retirando da realidade que existe fora da tela.
Sentimentos fazem parte da nossa construção de valores e moralidade. Grande parte da nossa construção social é validada nisso. Acredito ter uma natural aproximação de jogos, arte, cultura, sociedade e política, que se torna muito mais fácil de associar quando validamos os sentimentos que integram o ser humano nos jogos.
Agora depois dessa grande introdução lhes trago a última emoção descrita neste artigo.
REALIZAÇÃO.
Mas que diabos é a realização e por que isso é um gênero?
A realização é o sentimento que temos quando alcançamos algo, passamos uma etapa, superamos a nós mesmos. É a necessidade do ser humano de persistir e se superar.
Quando o nerdola “raiz” fala que jogos antigamente eram mais difíceis, é disso que ele está falando. Não só do estímulo narrativo, não só do estímulo social e emocional. Ele está falando da dificuldade mecânica e analógica do jogo. A ligação entre player, controle e tela.
Porém, se fosse só esse sentimento mecânico descrito pelo nerdola, nem devia estar aqui. Realização é muito mais:
É a satisfação e luto que temos ao terminar um livro, série ou jogo.
É o grito que damos quando zoamos nosso amigo enquanto fazemos um gol no FIFA.
É o orgulho que sentimos de ter uma cidade muito bem desenvolvida no Sim City ou qualquer builder.
A satisfação de passar por uma fase difícil.
É a completude que se sente quando se mata um chefe depois de dias aprendendo os movimentos dele.
É a superação do score ou dano pessoal e a alegria de se sentir melhor.
A realização é um sentimento de consequência, você faz coisas para os hormônios de prazer serem liberados; e tá tudo bem. A ludologia escreve livros e livros e mais artigos sobre a recompensa e como o ser humano se guia por ela.
Queremos nos sentir bons, queremos perceber que melhoramos, queremos algo em troca por algo bem executado. Isso é desde sempre, caçamos animais para receber carne, construirmos algo para ter teto, a recompensa está no nosso DNA desde antes de virarmos homo sapiens.
A realização também descreve a competitividade, pois somos acima de tudo um ser vivo que se identifica através da comparação. Então o sentimento que muitas vezes é toxico de querer ser melhor que o outro, também é expresso pela realização.
A realização tem uma relação engraçada com a diversão, pois da mesma forma que existem jogos que enquanto você se diverte consegue senti-la, também existem jogos que o prazer só é sentido após a execução.
Podemos nos atrever a supor que diversão é a fusão de jogos de realização com tranquilidade, mas tenho que estudar mais sobre isso, vamos seguir então.
Primeiramente gostaria de falar, Dark Souls não é divertido.
Agora que eu fiz essa revelação controversa, talvez você já esteja me cancelando ou irritado. Bem, minha segunda declaração é Eu amo Dark Souls. Joguei o um, dois, três, Sekiro, Bloodborne e Elden Ring. Só não joguei o Demon Souls porque não sou herdeiro e PS5 tá difícil. Na verdade, a primeira declaração serve para qualquer Soulslike.
Quem diz que Dark Souls é divertido tá mentindo. Passamos o jogo morrendo das formas mais ridículas com coisas bestas, perdendo progresso, movendo a passo de tartaruga decorando mapa na cabeça e batendo nas paredes, na esperando que uma ser uma parede falsa atrás de segredos sem pé nem cabeça.
Porque jogamos e amamos dark souls então?
Pelo sentimento de realização e completude que sentimos quando passamos por uma adversidade no jogo. Ele pode ser muito difícil, mas não é injusto. As regras do jogo estão lá, se o jogador não consegue seguir o problema é dele.
A sensação de passar um chefe em dark souls é como estar debaixo d’água segurando o ar, e segurando, e segurando, e segurando e quando parece que vai sufocar, você mata o chefe e respira. É uma satisfação parecida com beber água quando está com sede ou comer quando está com fome. Os hormônios de prazer liberados são incalculáveis.
Eu acho que a comparação mais correta seria quando uma pessoa tem um intercurso com alguém, o intercurso é divertido, mas o intercurso não é dark souls. O ápice, a conclusão esse sim é o dark souls. Pois o sentimento de satisfação, completude, realização e paz é o mesmo.
Somos atraídos pela auto superação e também por superar os outros. Vitória, conquista, reputação, reconhecimento, desenvolvimento e melhoria.
Todos são necessidades, ou melhor, desejos humanos os quais almejamos e nos dão incrível prazer. Existem jogos que representam essa humanidade inerente.
Imagine jogos de arcade como Pac-man, para os aficionados não existe o fim. O game não termina pois o foco é o score. Não tem ninguém contra você além de você mesmo. É simplesmente uma corrida contra a auto superação. O jogador é guiado pelo desejo de ser melhor que antes.
Genshin Impact nesse caso é bastante parecido com PAC-MAN. Você não está tentando superar alguém e nem vencer a competição. Os números altos de dano realizado são a recompensa. Esse é simplesmente o prazer de se ver mais forte.
O ato da repetição de uma ação para adquirir experiência, conhecido por muitos como “Grinding”; uns amam, outros odeiam, mas é uma parte intrínseca da comunidade. Para alguns é uma coisa fútil, uma soberba sobre mostrar ganhos em vez de aprendizado.
Porém, pode também ser um lugar seguro, muita gente se sente fora do controle e inútil na vida. Mesmo sendo bons no que fazem, muitas pessoas não têm oportunidade, isso gera uma frustração. No jogo a “meritocracia” é real, o esforço que player faz, ele vê o resultado e assim, se sente em controle.
Podemos ser bons, mas será que é tão errado assim querer se sentir bom em algo?
Jogos competitivos são a outra face dessa moeda. A recompensa dele é a vitória contra o outro. Nele, sentimentos de valor social são importantes. Quando jogamos FIFA sozinhos ficamos estáticos, porém, quando a vitória é sobre um amigo, perderemos a voz de tanto gritar.
Quando entramos no ambiente social, adotamos uma persona nova que deseja valor e validação do grupo. A vitória por ser um desejo social, quando almejada solta vários hormônios resultantes da aceitação do grupo. Satisfação, orgulho, felicidade tudo em uma mistura de euforia.
Infelizmente muitas vezes a abstinência ou negação disso cria um sentimento oposto igualmente potente. Bem, já vimos o que acontece com estádios de futebol quando isso acontece, não é mesmo?
Jogos de RTS em si são uma mistura dessa superação com o desenvolvimento imbuído. Poder construir algo de forma competitiva é outro deleite singular. O fator estratégico faz o jogo se tornar uma competição de inteligência, ou seja. A realização está em construir, somar, pensar.
Também existe uma satisfação visual. Não, não vou começar a falar de gestalt, semiótica, teoria da cor etc. Vamos falar de unpacking e espinha.
Já se sentiu bem ao assistir um vídeo de espinha? E daqueles desenhos que se completam, ou aquelas linhas de produção de doces? Existe um bem estar que sim, Gestalt explica. Nossos olhos sentem um prazer quando veem algo se completar como devia.
Vídeo de espinha, a espinha não devia estar lá, então estamos limpando a imagem. Completando formas geométricas tudo é agradável ao olho humano, e muitos jogos aproveitam essa paz que o ser humano sente.
Porém, unpacking vai além. Ele faz desse sentimento o jogo inteiro. Unpacking é um jogo que desempacotamos todas as caixas de mudança. Quando tudo começa a ocupar um local coeso que faz sentido para o nosso cérebro, sentimos uma completude.
Simples porém efetivo e uma prova que a satisfação não se encontra em apenas o que fazemos, mas também o que vemos.
Jogos metroidvania, roguelike e roguelite são jogos marcados pela persistência, de novo, de novo e de novo você se verá no mesmo local, fazendo a mesma coisa.
Porém, em Hades também existe a realização da descoberta. Sempre descobrimos algo novo inesperado e isso traz algo novo ao jogo que se mantém sempre fresco.
O estímulo da exploração cria uma satisfação, uma curiosidade que transforma o jogo em aventura e nesse momento o jogo se tornou, finalmente, diversão.
Ao juntar o obstáculo ao riso a uma aventura, sim aqui podemos descrever a realização, a tranquilidade e a curiosidade como diversão.
No final, acho que jogamos jogos de realização para ver valor, para nos sentirmos validados. Tanto em nossa vida, quanto perante quem convivemos. Queremos nos provar, queremos nos sentir capazes, queremos poder.
E é isso, depois de seis semanas chegamos ao fim e espero que você tenha varias conclusões e espero que elas sejam diferente das minhas.
Diversão existe e ela é importante, mas somos tão mais, e cultura é tão mais. Jogos são cultura, não deixe os outros limitarem o que um jogo é, ou o que ele te faz sentir. Sua auto identificação é importante como nerd, gamer ou qualquer classe social que esteja, não deixem minimizar ou relativizar.
O jogo é o objeto da comunidade, dê o devido valor e aprenda toda a extensão do ser humano com ele, um dia verá o fruto dessa construção. Verá dentro da comunidade debates repletos de ideias.
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