Video Games

Huntdown (Playstation 4) – Review

“As luzes brilham num clarão que rompe a névoa de sódio

E a noite se aproxima após o cair da tarde

Ignore as vozes, descarte o dia

Em prol de novas escuridões e caminhos iluminados…”

Lights – The Sisters of Mercy

 

Muito por conta do hype gerado em torno de Cyberpunk 2077, o gênero cyberpunk nunca esteve tão em alta nos jogos. Nascido na literatura como um questionamento fundamentalmente político, esse conceito alavancou na cultura pop através de obras como Bladerunner, Akira e Shadowrun. Com o aprimoramento das narrativas nos jogos, a invasão dessa vertente futurista era inevitável; a despeito de tudo o que foi citado até aqui ter ganhado adaptações para os games, tivemos também incursões originais que exploraram as temáticas desse segmento distópico, como o excelente Snatcher e o atemporal Final Fantasy VII, sempre tidos como referências de obras que absorveram discursos e conceitos políticos por meio de críticas contundentes ao modelo capitalista no seu estado mais severo, onde grandes corporações exercem o controle social sobre uma população marginalizada e sem perspectivas de um futuro melhor.

E se durante um tempo essa temática esteve em baixa nos jogos, hoje há uma profusão de novos títulos que abusam do tema, ao passo que para um melhor aproveitamento do potencial crítico, artístico e narrativo desta vertente, é preciso pinçar os que a exploram apenas como estética e esvaziam o seu conteúdo, dos que de fato apresentam o cyberpunk como ele foi pensado em conceitos e intenções de crítica social.

Huntdown chega na leva de jogos independentes que alcançaram a estética e a execução vistas nos 16 bits, entregando um sidescroling em 2D com temática cyberpunk e se utilizando de pixel art para reproduzir uma ambientação que remete à visão oitentista de um futuro distópico.

Num primeiro momento o que chama a atenção é a atmosfera que o jogo propõe: ele realmente quer te colocar em um filme dos anos 80 ou 90, no estilo de obras como Demolition Man, Juiz Dredd e O Quinto Elemento. Tudo parece uma grande homenagem a essa época, com especial destaque para a sonoplastia — a trilha sonora é composta por sintetizadores que tecem uma atmosfera perfeita para a voz canastrona do narrador, que por sua vez remete aos trailers e anúncios de filmes da época.

Feitas as considerações acerca da ambientação, é preciso dizer que a pixel art de Huntdown é excelente e contribui muito para o sentimento nostálgico que o jogo propõe. Pela paleta de cores e direção artística, a impressão é de estarmos rodando um título de Mega Drive, mas com uma execução técnica que supera as limitações daquele console. Os controles também são muito responsivos e cruciais para dominar a dinâmica que o jogo exige em situações complexas, onde é preciso alterar entre as armas convencionais e ataques específicos de cada personagem.

Como jogo, a verdade é que não há nenhum grande destaque para as mecânicas vistas em Huntdown. São 3 personagens que funcionam com igual dinâmica; basicamente você troca de armas como conforme a munição se esgota, administra o progresso e a movimentação pelas fases e possui um sistema de cover que parece interessante no começo, mas que não faz diferença no nível normal de jogo. Apesar de simples, a jogabilidade é bem executada e sustenta o título, que consiste em uma experiência de 5 a 6 horas em uma linguagem política acessível, mas que esbarra nos mesmos vícios das produções que ele parece homenagear, ou seja, quando pensado como produto de um entretenimento de massa, o limite da crítica que ele comporta parece esbarrar no que é nocivo a um grande mercado de consumo — as menções sobre drogas, violência e infelicidade derivada do capitalismo estão todas lá, ainda que mais contidas do que já pudemos ver em Snatcher e na excelente versão de Shadowrun para Mega Drive.

Como grande fã dessa temática, Huntdown vale como experiência desde que compreendidas as suas características entre ser completo e interessante como um jogo retrô, mas não profundo o bastante para figurar como uma grande obra do gênero cyberpunk.

Anderson, o Gamer Antifascista

Entusiasta da tríade composta por videogames, política e inclusão social, entende que estes assuntos não se descolam um do outro - e menos ainda da nossa realidade.

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Anderson, o Gamer Antifascista

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