Video Games

SVC CHAOS: SNK vs. Capcom – Análise

Eu nunca fui um grande fã de jogos de luta. Bom, não fã do tipo que empenha tempo e horas de aprendizado em jogos desse gênero. Mas sempre gostei da casualidade nesse caso. Aquele 1×1 maroto contra os primos em um sábado à tarde, regado a muito Cheetos bola bem fedorento, e um guaraná de qualidade duvidosa, enquanto esmagávamos os botões do controle do console.

Por algum tempo, tanto a Capcom quanto a SNK estiveram presentes nesse meu lance casual com jogos de luta, perdendo muito e ganhando menos ainda. Até que em algum momento, as duas empresas se uniram para trazer algumas novidades no mercado de Fighting Games. Em um momento em que a transição para o 3D já começava a ganhar ainda mais força, os pixels combativos da SNK e da Capcom se uniram em SVC CHAOS: SNK vs Capcom, ainda em 2003.

Agora, em 2024, o jogo retorna para as plataformas mais atuais, trazendo algumas novidades. Mas será mesmo que ele merece algum destaque no hall de jogos de luta, ou é só mais um jogo que alguns possuem uma memória afetiva e ganharam uma nova oportunidade para chamar de seu? É o que a gente vai ver nessa análise aqui.

READY… GO!

A primeira coisa que chama a atenção no jogo é o quão bonitas eram as pixel arts dessa época. É incrível pensar o trabalho que era animar todos esses personagens clássicos em um novo jogo que combava (com o perdão do trocadilho) as duas maiores empresas de jogos de luta desse estilo na época. Mas SVC CHAOS não é apenas isso. A versão atualiza traz algumas novidades como modo de luta arcade, em que o jogador pode fazer um modo treinamento, lutar contra a máquina ou até desafiar seus amigos em um confronto direto.

Além disso, ele também conta com um modo online em que procurará jogadores tanto de forma aleatória, como também dá a possibilidade de salas fechadas para que você possa desafiar seus amigos em confrontos diretos pela internet. O que é bem legal e é uma adição interessante ao lançamento original do jogo.

Há também alguns desafios que podem ser cumpridos dentro do game, em que o jogador precisará concluir o jogo com todos os personagens disponíveis no modo arcade. Cada um deles possui uma linha de diálogos única com seus oponentes. Porém, a gente sabe que história nunca foi o forte de jogos desse estilo (né Tekken? Né Heihachi Mishima?).

Uma das coisas que chama atenção aqui é que não há qualquer tipo de acessibilidade para os jogadores, o que é um ponto extremamente negativo. A nova versão não conta com tradução em PT-BR, nem mesmo dos menus, o que pode afastar algumas pessoas que não compreendem a língua, nem nos diálogos. Também não há uma seleção de dificuldade (ou melhor, ela até existe, mas falarei mais disso para frente), o que dificulta o aprendizado, caso você queira passar direto pelo modo de treino e ir para um confronto direto.

Golpes clássicos como “a tela branca do Akuma” estão presentes – Imagem: Reprodução

MEIA LUA PARA A FRENTE E SOCO…?

Eu sei que sou muito ruim em jogos desse tipo. Ninguém além de mim precisa reafirmar isso. Por isso que eu iniciei essa análise falando sobre o meu apreço pela casualidade nesses jogos. SVC CHAOS é talvez um dos títulos menos acessíveis para jogadores novatos ou até mesmo que queiram aprender sobre Fighting games através dele, pois ele não oferece nenhum recurso que facilite a vida do jogador. Você precisa entrar nele sabendo o mínimo e dominando esse tipo de jogo.

Ele não oferece nenhuma opção nos menus para reduzir a dificuldade dos desafios. Eu mesmo levei uma bela surra na primeira luta (que tem o costume de ser sempre aquele tipo de personagem bucha, e com o passar do jogo, o grau de dificuldade vai aumentando). SVC CHAOS acaba indo na contramão de jogos do gênero, oferecendo uma experiência bastante desbalanceada, somada com alguns problemas técnicos já conhecidos do jogo original. Até personagens mais clássicos, como Ryu, Kyo Kusanagi, Iori Iagami e May Shiranuy, sofrem de desbalanceamento aqui. Mesmo aqueles que já tem o costume de jogar com esse personagem, precisarão estudar as suas listas de movimentos, que não foram todas mantidas aqui, e possuem algumas variações.

Basicamente, não houve um retrabalho para que ele se tornasse mais acessível para um público novo, mas sim, é um jogo que mira num público bastante específico: os saudosistas. SVC CHAOS nem tenta ser algo diferente do que ele já foi. Ele é única e exclusivamente um produto de sua época, colocado novamente nas prateleiras virtuais para atender quem ainda tinha algum apego por esse jogo.

É claro que algumas coisas aqui são interessantes, como a inclusão de personagens bem “lado B” de ambas as empresas envolvidas, como o Mars People de Metal Slug, aquele alien que mais parece uma água viva, ou Firebrand, protagonista de Demon’s Crest e Gargoyle’s Quest. Zero, de Megaman Zero (GBA) também fez sua estreia em jogos de luta aqui, em SVC CHAOS. E apesar de ele apostar em lutadores novos e bem excêntricos, faltou um pouco de carinho na hora de portar o jogo para as plataformas atuais, rebalanceando a jogabilidade e trazendo algumas opções de acessibilidade para um novo público que está descobrindo esse universo dos jogos de luta.

O jogo oferece uma gama de personagens clássicos e estreantes – Imagem: Reprodução

YOU WIN?

Você que leu essa análise já entendeu que eu não curti tanto assim o jogo. Isso é algum pretexto para te convencer a não jogá-lo? De forma alguma! Eu acho super saudável que cada um tenha uma opinião sobre um jogo, uma série, um filme, um livro. Meu trabalho aqui é apenas mostrar um pouco da minha experiência. E infelizmente ela não foi das melhores.

Isso é um problema meu? Com certeza! Eu sei da minha falta de tato com esse tipo de jogo. Ele não foi feito pensado em mim e na minha (falta de) habilidade com jogos de luta. Assim como minha completa inaptidão com jogos de esporte.

Mas por vezes, enquanto jogava SVC CHAOS, eu sentia que o jogo também não foi pensado em um público mais amplo. Ele foi pensado para o público dele. Para quem gosta de dedicar horas e horas e horas entre sopapos e bicudas na cara. Se você gosta desse tipo de game e tem essa disposição para dominá-lo, dê uma chance a SVC CHAOS. Porém, saiba que todos os problemas do passado também estão aqui. Nenhum deles foi solucionado ou pensado em ser resolvido.

Agora, se você é do tipo que gosta de acompanhar campeonatos de luta e quer entrar nesse universo dos Fighting games, talvez SVC CHAOS: SNK vs Capcom não seja a melhor porta de entrada.

Falando um pouco sobre a jogabilidade, os controles não são tão responsivos quanto deveriam, e é perceptível que há um input lag presente no jogo (que é aquele intervalo de tempo de milissegundos entre você apertar o botão e o personagem responder). É um tanto sutil? Sim, mas ainda é perceptível. Os personagens também possuem um “peso” que é um pouco diferente para quem jogou outros games da franquia Street Fighter ou King of Fighters, em que tudo acontecia de maneira rápida e havia uma certa “leveza” em executar combos e golpes especiais.

O jogo tem diversos problemas de balanceamento, o que pode afastar jogadores novatos. – Imagem: Reprodução

Mesmo jogando no D-Pad, a responsibilidade é bem crua e limitada, o que pode deixar até jogadores mais experientes, bastante incomodados.

Há também pouca variedade de cenários, e apesar de possuírem visuais bem legais, estão aquém do que tanto a Capcom e a SNK costumam mostrar em seus jogos mais clássicos.

A trilha sonora é boa, e tem bastante aquela pegada de jogos clássicos, como Street Fighter 2 e The King of Fighters 2000, com uma pegada mais techno e batidas presentes, que dão uma somada com a ação em tela. Apesar de ser uma trilha bem interessante, nenhuma das músicas pode se dizer memoráveis. Mas é uma adição interessante e bem legal.

Sobre a dificuldade, eu creio que você que está lendo já entendeu meu ponto aqui no jogo. Mas também não quero ser desonesto e dizer que o jogo não oferece algum tipo de pacote de ajuda. Ao perder um combate, aparece a tela de “continue”, e tradicionalmente você tem 9 segundos para continuar ou desistir. Se você persistir na sua empreitada até o final, o game irá lhe oferecer três opções de ajuda, sendo elas: reduzir a dificuldade do combate (ou seja, a máquina será “menos” agressiva (e esse MENOS é bem sutil mesmo, não espere muita coisa)), já entregar uma barra de movimento especial cheia para você poder triturar seu oponente (se conseguir executá-lo) e um pouco mais de vida na sua barra. Há também uma opção que ignora esses artifícios e aí é com você.

Não espere que isso facilite sua vida: alguns oponentes são bem casca-grossa e mesmo numa dificuldade menor, não entregarão os pontos de maneira fácil.

CONTINUE… ?

SVC CHAOS: SNK vs Capcom é um jogo que está aquém de grandes títulos de luta de ambas as empresas. The King of Fighters e Street Fighter, dois dos maiores games de luta são ótimos títulos que nem é preciso dissertar muito sobre. Estão aí até hoje para provar a força de seus nomes. A união destes neste game é que deixa a desejar, com controles bastante imprecisos, desbalanceamento de personagens e um port que poderia muito bem ser uma grande oportunidade de consertar esses erros, ao invés de emular uma experiência como essa.

O grande acerto desse jogo é estar presente em novas plataformas, como o Nintendo Switch (versão que testei) e disponível para que mais gente o descubra e o redescubra. Já o grande erro é não corrigir os erros do passado e se tornar um jogo de mais presença, ficando quase relegado aos seus fãs e quem tem aquela memória de “ah eu jogava isso na locadora e achava legal!”.

Quanto a mim, restam apenas as boas lembranças de jogar esse tipo de jogo, com a camisa cobrindo o polegar para evitar as bolhas de tanto tentar fazer uma meia-lua no direcional, e reclamar das várias derrotas obtidas com êxito.

SVC CHAOS: SNK vs Capcom está disponível para Playstation 4 e 5 (R$99,50), Nintendo Switch (R$103,41) e PC (via Steam) (R$59,90).

 

Esta cópia de SVC CHAOS: SNK vs Capcom (Nintendo Switch) foi fornecida para a escrita deste review de maneira antecipada.

 

Vinícius Vidal Rosa

Ex-técnico em informática, jornalista formado e apaixonado por games e tecnologia. Faz do seu tempo livre, uma maneira de levar informação e falar sobre o que gosta.

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Vinícius Vidal Rosa

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