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Tekken 8 (PC) – Análise

Eu lembro quando tinha uns 13, 14 anos, vivendo na região metropolitana de Porto Alegre, de aproveitar os finais de semanas com salgadinhos de marcas duvidosas, refrigerante, a presença de alguns primos e amigos e videogames. Mas um deles eu lembro de maneira especial: Tekken 3. Acho que junto com The King of Fighters, era um dos meus jogos de luta favoritos porque, diferentemente dos jogos da SNK e da Capcom, Tekken 3 tinha uma coisa que me agradava muito: ele não exigia comandos elaborados e tinha um combate mais alinhado com a minha habilidade limitada para esse tipo de jogo.

Eu lembro de jogar muito esse jogo no meu velho PS1 que só funcionava na vertical – e que meu pai acabou fazendo uma base de maneira para sustenta-lo ao lado da TV – com meus primos e primas. Foi um jogo que acompanhou um pouco da minha trajetória no console original da Sony. O tempo passou, e quando o Playstation 2 chegou na locadora perto de onde eu morava, um dos jogos de luta que mais joguei foi Tekken 4. Jogava muito bem com Lei Wulong, e aprendi muitos golpes treinando ali naquele espaço.

Com o passar do tempo, as responsabilidades foram aumentando e eu me afastei bastante da série. No entanto, por obra do destino – e também por ter a oportunidade de ter um espaço para falar sobre videogames -, eu consegui retornar a Tekken 8, o mais recente game da série e parece que eu me reencontrei num espaço de jogos de luta mais seguro para mim. Como eu disse em uma análise anterior, apesar de ter jogado bastante jogos desse gênero, eu não me considero nem um jogador médio. Mas Tekken 8 conseguiu me surpreender positivamente, me mostrando que com o passar do tempo, a série também amadureceu e conseguiu estabelecer um patamar de qualidade ímpar.

 

FOCO NA NARRATIVA, MAS SEM DEIXAR A GAMEPLAY DE LADO

Creio que narrativamente jogos de luta nunca tiveram um grande foco em sua história. Sempre houve um pano de fundo para que uma justificativa do porquê aqueles personagens estavam se esbofeteando pudesse se sustentar. E com Tekken nunca foi diferente. Creio que esse foco só começou a ser melhor explorado com a chegada de Mortal Kombat 9, no PS3 e Xbox 360, que trouxe uma história mais cadenciada e clara ao público que já era fã, e também para novatos. Aliás, ter uma trama em jogos de luta nunca foi novidade, mas acredito que a maneira como a NetherRealm e a Warner trabalharam isso em MK9 acabou fomentando uma leva de jogos de luta com foco em suas narrativas.

Tekken sempre foi um jogo que teve um conflito familiar muito claro. É quase como o Hamlet dos videogames (posso ter exagerado aqui, mas não consigo linkar com outra obra que aborde na mesma intensidade), trazendo aquele núcleo Heihachi / Kazuya / Jim em uma rede de conflitos quem impactam todo o torneiro King of the Iron Fist, presente na trama (quase como o Mortal Kombat mesmo).

Será que teremos o final da saga/novela mexicana Kazama / Mishima? (pelo jeto, não!) – Imagem: TechTudo

Em Tekken 8, a trama se desenvolve após o final do game anterior. Kazuya dá cabo de Heihachi o jogando dentro de um vulcão e consegue um poder ilimitado graças ao Devil Gene (aquele troço que faz ele ficar endiabrado, como já vimos Jim fazer, e Heihachi em sua forma capetística). Jim então parte em uma jornada atrás de seu pai, mas diversas coisas saem fora do esperado. Agora, ele precisará unir forças com seus aliados para tentar enfrentar Kazuya ao final do Torneio e acabar com sua ameaça ao mundo.

Apesar de parecer uma trama até meio simples, acho que uma coisa bem desenvolvida aqui é que personagens que antes não tinham tanta presença na trama acabaram ganhando destaque. Muitos devem lembrar de como a personagem chinesa Ling Xiaoyu, que apareceu pela primeira vez em Tekken 3 que, apesar de carismática, não tinha uma importância tão grande na trama. Aqui, por sua vez, ela já se torna uma peça importante dentro do enredo criado no jogo, sendo uma forte aliada de Jim.

Claro, tudo isso que eu falei anteriormente é se você gosta de acompanhar a história dentro de um jogo de luta. Se você não se importa tanto com isso, nem precisa esquentar sua cabeça com tentar entender quem é quem aqui.

Partindo então para a gameplay, eu acho que Tekken de uma maneira geral nunca jogou mal. Claro que houveram títulos em que a jogabilidade mudou um pouco e algumas coisas acabaram saindo desbalanceadas (alô você que joga de Eddie Gordo! Você é fanfarrão!), mas de uma forma geral, Tekken sempre foi muito amigável com jogadores novatos e veteranos.

Em Tekken 8, tudo parece ainda mais amigável que ajuda jogadores inexperientes a se encontrarem com seus personagens. Uma das primeiras grandes novidades aqui é a chamada Heat System (ou sistema de calor, em tradução livre), uma barra que já vem carregada a cada início de luta e que permite que os jogadores desfiram golpes mais fortes, ou a gastem de maneira moderada, fazendo com que seus golpes padrões causem mais dano ao oponente. Isso é uma coisa que difere bastante a postura de Tekken 8 em relação ao seu antecessor, pois Tekken 7 prezava por uma jogabilidade mais defensiva, em que estudar seu oponente e suas aberturas de guarda para atacar faziam parte da demanda do jogo. Em Tekken 8 a coisa inverte-se: aqui, o jogo pede que você seja mais ofensivo, que você faça o estudo do seu oponente, mas de maneira mais rápida e instintiva, o que dá um outro dinamismo ao game. O Heat System é extremamente útil, quando se assume essa postura mais agressiva, ao encurralar o seu oponente num canto e finalizar o trabalho. Ou até mesmo para escapar dessas encurraladas durante as partidas.

Os Rage Arts, que foram implementados em Tekken 7 estão de volta em Tekken 8. Consiste em quando você está com a vida muito baixa, ao pressionar os botões traseiros (R2 no PS5 e RT no Xbox), o personagem assume uma postura ainda mais agressiva e causa muito mais dano no adversário, podendo até mesmo subverter o resultado, se ele souber o que fazer enquanto o modo estiver ativo. Quanto menos vida você tem, mais dano pode causar ao oponente. Saiba utilizá-la bem para sair de enrascadas, hein?

WOW! NICE GRAPHICS!

Além de um gameplay pra lá de gostoso, uma das coisas que me chamou muito a atenção foi o quão bonito Tekken 8 está. Sério! Eu acho que esse é, de longa, um dos jogos de luta mais bonitos dessa geração – eu sei que tiveram alguns relançamentos de jogos de lutas em pixel art, como SVC CHAOS e Marvel Vs. Capcom clássicos, cuja minha paixão pela pixel art também é grande, mas aqui o patamar foi outro.

Eu lembro que em uma das partidas que ganhei, estava jogando com King (a.k.a, MELHOR PERSONAGEM DE TEKKEN E TENHO DITO), e na comemoração, o personagem fez uma pose em que era possível ver suas veias dos braços salientes. Eu pensei em primeiro momento que aquilo tinha sido apenas impressão minha, mas quando eu percebi que numa pose com os braços mais relaxados, as veias não estavam tão aparentes.

Tudo bem que isso é um detalhezinho de nada – e que provavelmente também rendeu um crunch de um pessoal aí -, mas é algo que eu nunca vi (ou percebi) nem em um jogo AAA dessa geração.

Fora isso, todos os detalhes de luz, sombras, texturas de roupas, cabelos, e cenários estão incríveis e muito bem feitos. É um prato cheio principalmente para quem gosta daquela impressão de impacto ao golpear um oponente, em que é possível sentir o peso do golpe desferido.

Os cenários também possuem partes destrutíveis, o que não apenas acarreta em causar mais dano no oponente, mas também remete muito as mudanças de cenário dos Mortal Kombat clássicos.

Algo bem interessante também são as customizações de personagens, que estão com ainda mais opções para deixar seus personagens únicos, além é claro da possibilidade de replicar roupas de outros personagens de fora da franquia (eu mesmo acabei topando com um Steve Fox trajado de Seu Madruga, muito bom).

ONLINE PARA TODOS OS GOSTOS

É claro que jogar com os amigos em partidas locais é sempre mais divertido – mas que pode pôr em xeque as amizades, dependendo da zoeira -, mas para quem tem preocupações com a estabilidade para jogar contra os amigos que moram longe, através de partidas online, não precisa esquentar a cabeça. Sae tem uma coisa que Tekken sempre fez bem foi dispor de ótimos servidores para partidas via internet.

Claro que há sim alguns problemas. Eu mesmo, realizei algumas partidas na versão se PC que testei, e tive alguns problemas sobretudo por utilizar rede wi-fi no meu computador (pois o roteador fica em outro cômodo da casa). Então, é claro que sempre fica a recomendação de utilizar um cabo LAN para melhor conexão.

Mesmo com esses problemas, as partidas que disputei rodaram sem qualquer latência ou travamento por conta da conexão, fluindo super bem (e melhor ainda para meus oponentes, pois foi cada surra que fui obrigado a replicar o meme do SMZinho de “você comprou os dois? O meu e o seu?!”).

O modo online irá testar suas habilidades contra amigos de longa data e recém-chegados. Achas que tem o que é nesserário para esmagares botões em combos? – Imagem: IGN (Reprodução)

Tekken 8 também conta com o sistema Fight Lounge (Saguão de Batalha, em tradução livre), uma espécie de hub em que podemos disputar partidas contra amigos, fazer pedidos de amizades, além de acessar máquinas árcade para disputar partidas ranqueadas, contra amigos recém adicionados ou até partidas casuais. O modo Tekken Ball, que apareceu pela primeira vez no terceiro game da franquia, está de volta e pode ser acessado dentro do Saguão de Luta. Aqui, os jogadores irão disputar uma espécie de vôlei, usando os golpes dos personagens para arremessar uma bola ao campo adversário e tentar pontuar.

 

UMA HOMENAGEM A NÓS, JOGADORES

Talvez um dos modos que eu mais me diverti jogando em Tekken 8 foi o modo “Arcade Quest”, um modo individual em que você cria seu avatar e não apenas disputa partidas com outros personagens (NPCs, no caso), e vai aprendendo mais sobre a execução de golpes, combos, contra-ataques, defesa e como se portar nas lutas. Ele é um modo à parte, e quase um jogo extra dentro de Tekken 8, em que você avança não apenas lutando e ganhando, mas aprendendo sobre os fundamentos básicos do jogo.

Por alguma razão, foi o modo que mais me pegou aqui – apesar de que todo o resto é excelente no que se propõe a fazer -, talvez por me transportar para aquelas lembranças que abordei no início dessa análise.

O game ainda conta com um modo que explora a evolução enquanto jogador de Tekken 8 – Imagem: Alternativa Nerd (Reprodução)

É uma ótima porta de entrada para quem está querendo se aventurar por Tekken 8, e não se importa tanto com história ou enredo dos personagens e apenas que um jogo para jogar com os amigos, mas ainda desconhece as mecânicas dele. Eu recomendo muito que você dê uma chance para ele, mesmo já sabendo como o jogo funciona, pois é uma ótima oportunidade de ver todo o carinho que os desenvolvedores tiveram em representar a curva de aprendizado dos jogadores – além de ser uma ótima “máquina do tempo”.

 

TEKKEN 8 É O MELHOR JOGO DE LUTA?

É difícil fazer uma constatação desta magnitude. Tekken 8 possui sim alguns pequenos problemas, sobretudo no que tange a parte online, mas eu não acho exagero dizer que é sem dúvidas, um dos melhores títulos do gênero de luta que você irá jogar. Ele joga bem, tem uma história legal de acompanhar (caso você se importe, claro), e possui vários modos para os mais variados tipos de jogadores.

Ele é um daqueles casos que o jogo tem uma flexibilidade para cada tipo de público: se você quer apenas se divertir em partidas rápidas, o modo árcade vai se dar o que você quer. Se você quiser uma experiência nostálgica, o Arcade Quest talvez seja para você. Se você gosta de um desafio, o modo online ranqueado é o que você busca. Enfim, modos variados para jogadores variados não faltam aqui.

Creio que isso consolide Tekken 8 – que ainda está recebendo novos conteúdos e personagens – como um dos jogos de luta mais completos dessa geração. O que resta saber agora é para onde tudo vai se enveredar no futuro. Enquanto ainda não podemos prever o futuro, podemos definir que uma franquia que fez a diferença no passado, é um dos melhores do seu gênero no presente.

 

Esta cópia de Tekken 8 foi gentilmente cedida na sua versão de PC (Steam) pela Bandai Namco para a escrita dessa análise. 

Vinícius Vidal Rosa

Ex-técnico em informática, jornalista formado e apaixonado por games e tecnologia. Faz do seu tempo livre, uma maneira de levar informação e falar sobre o que gosta.

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Vinícius Vidal Rosa

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