O gênero Metroid-vania tem sido saturado no mercado, principalmente por desenvolvedoras independentes, que apostam seus esforços em trazer elementos que remetem aos clássicos, como Castlevania: Symphony of the Night (o precursor do gênero) e, claro o próprio Metroid.
No entanto, se analisarmos esses dois gêneros unificados, notamos que jogos que bebem dessa fonte, acabam ficando cada vez mais com o lado “Metroid” e menos “Castlevania”. Pode-se dizer que o game mais parecido com aquilo que fez Castlevania, um jogo tão cultuado, foi Bloodstained: Curse of the Moon – que é uma clara ode a Castlevania III: Dracula’s Curse, do NES.
Mas, em fevereiro deste ano, a Migami Games resolveu apostar suas fichas em trazer um game que traz toda a essência dos Castlevanias clássicos lançando “Wallachia: Reign of Dracula”, um game que se apoia tanto na jogabilidade plataforma, como “Dracula X” e “Super Castlevania IV” do SNES, mas traz elementos menos fantasiosos e mais pautados na realidade. O game foi publicado pela PixelHeart e pelo Storybird Studios.
Nele, assumimos o papel de Elcin, uma moça que perdeu os pais e teve seu irmão raptado por Vlad Tepes. Elcin cresceu sob os cuidados de Christian Rosenkreus, que a treinou como uma destemida arqueira em busca de vingança pelo que Vlad “Dracula” fez a sua família.
O game não apenas possui uma jogabilidade muito semelhante com os clássicos Castlevania da era 8-bit e 16-bit, mas também possui uma ambientação bem interessante. Mas ao invés de castelos sombrios e monstros variados como caveiras, morcegos gigantes e criaturas das trevas, nosso combate é contra o império da Valáquia, atual Transilvânia, na Romênia. O game bebe de fontes históricas para criar sua própria história, mostrando um pouco sobre os povos turco-otomanos durante a invasão na região, que ocorreu entre os séculos XV e XVI.
A jogabilidade é bastante simples. Em “Wallachia” nós podemos andar, pular, usar uma rasteira, atirar em oito direções diferentes, atirar abaixado, carregar um disparo que causa mais dano (ao melhor estilo Mega Man), utilizar itens e chamar auxílio de companheiros coletando alguns orbes ao derrotar inimigos. Os controles também são simples de aprender, com um mapeamento bem agradável.
A trilha sonora é um dos pontos altos do jogo. É notória a influência do game em buscar se aproximar de seu progenitor, não apenas em jogabilidade, mas nas trilhas que marcaram Castlevania. O uso de elementos clássicos mesclados ao som de batidas mais agitadas de rock e metal casam perfeitamente com a ambientação.
O combate se resume a andar e atirar, pois a maioria dos inimigos se coloca de maneira estática no cenário, e tudo o que é preciso é acertá-lo, seja com um tiro de flecha ou com o uso da sua espada, que além de atacar os inimigos em uma distância corpo a corpo, também funciona como uma defesa contra inimigos que também utilizam arco e flechas, podendo quebrar suas flechas, evitando que você tome dano por disparos de inimigos.
Durante o progresso das fases, Elcin também pode coletar alguns itens que melhoram o desempenho de seu arco e flechas, causando mais dano ou até um dano em área maior. Upgrades para sua espada também podem ser coletados, melhorando um pouco do alcance dela, além de causar mais danos.
Sobre o combate com os chefes, aqui posso dizer que encontrei alguns problemas, pois “Wallachia” não copia apenas os pontos positivos de Castlevania e até mesmo de Contra, mas as vezes você não tem tempo suficiente de aprender os seus padrões. Retomando um pouco a análise do combate, o game tem uma hitbox bastante problemática. Houve casos, em durante o gameplay, que os ataques simplesmente passavam por dentro da área do chefe que deveria lhe infringir algum dano, e não causou dano algum.
Sobre o ponto de vista de desafio, este é sim uma parte importante do jogo, mas quando a dificuldade acaba gerando frustração, o jogo perde o sentido. Eu entendo que na época em que Castlevania e Contra foram lançados, eles tinham que lidar com algumas limitações. Mas quando um jogo se propõe a te dar uma experiência no nível “normal”, repleta de momentos assim, o sentido de “normal” se esvai. Eu não costumo reclamar de dificuldade, pois joguei recentemente outro game que segue a mesma linha “run n’ gun“, Blazing Chrome, e foi uma experiência desafiadora, e até mais completa do que encontrei em “Wallachia”. Ele é difícil? Sim! Diria até mais difícil do que esse game aqui, mas ao mesmo tempo em que ele é uma carta de amor a “Contra: Hard Corps“, ele corrige bastante coisa que a sua matriz fez de errado, tornando-o uma experiência satisfatória e divertida.
Não que o game seja ruim por ser difícil, longe disso! Até por que eu adoro games que propõe um desafio grande ao jogador. Um exemplo próximo disso, e que também permeia o mar dos indies, é Cuphead, um game com uma dificuldade acima da média, mas que torna o seu gameplay fluido, intercalando entre fases convencionais de um “run n’ gun” com Boss Rush.
Mas acho que “Wallachia” torna essa experiência um pouco frustrante por trazer elementos que irritavam os jogadores de Castlevania da época. Não se contentando apenas em copiar aquilo que fez dele um game extremamente único em sua época, os desenvolvedores adotaram também elementos que atrapalhavam a sua gameplay.
Um problema que foi copiado dos Castlevanias originais, é aquele maldito salto para trás ao tomar um dano. Eu perdi a conta de quantas vezes eu morri no meu progresso por conta disso. Isso não contribui em nada para o jogo. Aliás, contribui apenas para fazer o jogador se estressar e desistir de seguir adiante no game, pois qualquer dano que Elcin leve, se próximo a um abismo, é menos uma vida para o seu contador.
E falando em vidas, vale ressaltar aqui é que “Wallachia” não possui nenhum sistema para salvar seu progresso ou inserir passwords. Se você iniciou o game, você deve terminá-lo em uma única jogada. Caso você morra e dê Game Over, a fase se inicia desde o seu começo. Então fica aqui o aviso. Quanto a checkpoints, eles existem a cada transição de tela dentro das fases. Caso você morra e acabe com uma vida, você inicia daquele trecho em diante.
Sobre a parte visual, “Wallachia” possui uma belíssima pixel art. Claro que com algumas melhorias técnicas, onde fica claro que um console dos anos 80 e 90 não teria capacidade para reproduzir aquele tipo de pixel art, mas todos os cenários são riquíssimos em detalhes, reproduzindo um pouco do que era a Valáquia naquele período.
Os inimigos também possuem um visual bem interessante, mas você vai ver o mesmo tipo de inimigo repetidas vezes ao longo das sete fases do game, e essa pouca variedade pode ser cansativa.
Já o visual dos chefes é um show à parte, cada um tendo um visual único, e super detalhado. Se você é um amante de chefes em pixel art nos moldes de “Super Metroid” ou “Castlevania – Symphony of the Night”, você vai ficar muito satisfeito.
“Wallachia – Reign of Dracula” é um game que tem seus méritos e falhas. Em meio a um mar de games que tentam copiar uma fórmula já saturada no mercado indie, ele é uma boa pedida para reviver alguns momentos da franquia clássica de “Castlevania” e “Contra”.
Dependendo da sua habilidade com esse tipo de jogo, você pode ter uma aventura rápida e satisfatória, ou reviver momentos traumáticos e quebrar o controle na parede. Jogue, e você irá descobrir qual o seu perfil para esse desafio.